Foram três anos de Ensino Médio ouvindo sobre faculdade, carreira e vestibular. Em alguns casos, somam-se os anos de cursinho. Então você passa e é aquela sina: trote, mudança de casa, nova cidade, novas pessoas… Enfim, uma vida completamente nova.
Para alguns, tudo se torna uma festa. Para outros, no entanto, o processo de adaptação não é nada fácil. Sentem-se deslocados, com saudades da família e dos amigos. E tem aquela insegurança típica: “Será que escolhi o curso certo?”.
Em entrevista, o professor Sandro Caramaschi, do departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências, explica o porquê das crises e dá dicas sobre como acelerar seu processo de adaptação.
1- Você acha comum os calouros sofrerem com crises sobre a escolha do curso durante o primeiro ano?
Sim. As crises podem acontecer por diversos motivos porque a vida universitária exige muitas adaptações simultaneamente. Acrescenta-se a isso todas as mudanças decorrentes da fase de vida que esses alunos estão passando, no que diz respeito a alterações hormonais, sociais e de personalidade.
2 – Essas “crises” poderiam ocorrer pela mudança de vida, como a distância dos pais, cidade?
Essas alterações devem contribuir em parte, mas imagino que as maiores dificuldades dizem respeito à forma de vida desses jovens, normalmente individualistas e pouco idealistas. Para eles, sair da casa dos pais, de certa forma, é deixar a zona de conforto para uma vida de responsabilidades, divisão de tarefas e principalmente de tolerância com os outros.
3 – E como os calouros podem saber se escolheram o curso certo?
O processo de escolha do curso universitário deveria ser acompanhado de orientação profissional, onde as perguntas certas deveriam ser formuladas acerca dos cursos possíveis. O aluno deve pensá-los de forma abrangente, envolvendo as disciplinas da graduação, mas principalmente a atuação profissional, adequação pessoal, retorno financeiro, campo de trabalho, etc. Depois de estar na faculdade, o raciocínio deverá ser o mesmo, tomando-se cuidado de não se fazer uma avaliação precipitada com base apenas nas disciplinas cursadas. Afinal de contas, o curso dura apenas quatro ou cinco anos, mas a profissão durará para toda a vida.
4 – E como se adaptar ao ambiente universitário com mais facilidade?
As pesquisas mostram que os alunos mais adaptados são aqueles que apresentam uma atuação ativa no processo de ajustamento à vida universitária, participando de grupos diversificados, atividades extracurriculares e diminuindo a frequência de visitas à cidade de origem.
5 – As férias de final de ano – quase três meses em casa – poderia fazer com que os veteranos também sofressem alguma “crise”?
Uma pesquisa minha indicou que os veteranos, ao chegar na casa de seus pais, sentem-se como “visitas” ou como “estranhos”. Neste sentido, as crises podem surgir como uma forma de inadequação social. Eles não se sentem como pertencentes a nenhum dos seus ambientes: a casa dos pais não é mais deles e a república onde vivem é provisória.
6 – Da mesma forma, como voltar a se adaptar ao ambiente acadêmico?
A adaptação dos veteranos é mais rápida e menos dolorosa, afinal é a repetição de uma experiência já vivida anteriormente.
—
Mariane Bovoloni